Acídia

03/10/2012 Nenhum comentário


    Sou um anjo sem asas. Um anjo que preso a terra pela força da gravidade, fadado a admirar o paraíso sem poder alcançá-lo. Acorrentada ao chão impuro que suja meus pés, antes limpos, sempre acariciados pelo ar. 
   Meu olhar sempre voltado aos céus, portal do paraíso escondido pelas nuvens e do conhecimento dos leigos, para nunca parar de sonhar, sem me abater, sem tirar em mente o meu objetivo. Mas, o barulho desse maldito planeta me atordoa me deixa surda impossibilitando ouvir a melodia das harpas. Desequilibra-me, fazendo que eu caía ao meus pés. Me cega dia após dia embaralhando a vista do paraíso. 

  Tentei lançar-me de prédios para voar, mas apenas consegui estatelar-me no frio e duro concreto. A cama elástica iludiu-me, ao proporcionar uma breve sensação de voo apenas para acorrentar-me ao chão novamente.  O avião me fez chegar ao céu apenas para uma leve visita ao meu lar sem poder cumprimentar nada nem ninguém. Nem mesmo tocar as nuvens fofas e brancas, sem poder saudar meu criador, já que estava dentro de uma capsula voadora.
 Continuei a andar com a cabeça voltada para o alto, para as alturas, sem me importar com mundo em que estava. Meu coração se contorcia, diminuía a cada segundo por nunca conseguir ir retornar para casa. A visão ainda turva, ainda surda, ainda desequilibrada. 
Senti algo chocar-se contra meu corpo então, pela primeira vez, olhei para frente.
  O sorriso carinhoso me deu boas-vindas, o olhar preocupado vez que eu sentisse algo estranho no meu estômago, à voz que fez que tudo voltasse a ser nítido.
-Oi, anjo – Ele disse, abrindo ainda mais o sorriso. Sorri de volta e olhei pela a selva de concreto a qual me encontrava; longos prédios impedindo uma visão nítida do horizonte, barulho de tudo quanto é lado, cor,muita cor. Não era tão assombroso quanto pensava.
-Está tudo bem?  -Sua voz carregada de preocupação fez que eu o olhasse.
-Sim – Minha voz rouca e desafinada arranhou meus ouvidos. Havia tanto tempo que não pronunciava uma palavra. Ele torceu a boca e arqueou uma sobrancelha. 
-Vamos para casa? Deixe para sonhar mais amanhã, querida. – Inspirei uma grande quantidade de ar e balancei a cabeça em concordância. -Você esqueceu que tinha que me encontrar aqui?
-Vamos para casa – Disse engolindo a sua segunda pergunta.
Seus braços passaram em volta dos meus ombros. Aconcheguei-me em seu peito, passando minha mão fria em sua cintura.Suspirei de alívio, já que amanhã eu poderei sonhar mais.
N. Blue
N/a Para a minha querida e doce Gaby. Meu chuculate, parabéns que a força esteja com você hoje sempre, assim como eu estarei por você.  

Acídia: Estado da alma decorrente a contemplação profunda de si mesmo e do mundo. Abandonada a reflexão profunda, a alma indaga sobre o sentido das coisas, do ser e da existência. Tal consciência é tão terrível que o ser humano tende, até inconscientemente, fugir dela.

 
Desenvolvido por Michelly Melo.