Ironia

15/01/2014 Nenhum comentário

















   Muitas das vezes eu acho o mundo irônico. É impressionante como tantas realidades distintas podem existir ao mesmo tempo. O motivo que estou escrevendo isso é por algo que presenciei há alguns dias e guardei  para mim em uma tentativa inútil e infantil de esquecer o que aconteceu.
   Eu estava na fila do sorvete do McDonald de um shopping no centro da cidade doida para comprar um copo d'água porque o diabo decidiu deixar a porta do inferno para o vapor sair um pouco deixando a minha cidade mais aquecida que forno de pizzaria.  
  Os meus pensamento impacientes direcionados à atendente foram desviados quando vi algo que me deixou com o coração na mão. Um homem corria em direção a saída de forma esbaforida seguido por policiais e funcionários da Centauro.  Ele passou do meu lado, eu já estava naquele estágio de medo e angústia de que ele fizesse algo comigo, quando um dos policiais içou o pé dele fazendo que ele caísse no chão em um baque surdo.
  A multidão de aglomerou em cima do rapaz, curiosos demais para ver o show que estava acontecendo. A mulher na minha frente se escondeu atrás de mim, com as mãos firmes na minha camiseta ,me fazendo de escudo, deixando claro que eu não teria alternativa a não ser "protegê-la" caso acontecesse algo. 

  A atendente do McDonald gritou "Próximo!" e olhei para ela assustada. Ela não tinha medo? Pelo que eu vi no rosto impaciente, um retrato dos meus pensamentos anteriormente, aquela não era uma cena peculiar nem alarmante. A meu ver a jovem atendente presenciara tantas cenas daquele porte ficando dormente ao ponto de não causar nenhuma reação ou sentimento de auto-defesa.  Tentando controlar a minha voz e meus pensamentos esganiçada pedi a água e lhe entreguei o dinheiro sem realmente ver. 

 Levantaram o homem algemado, então eu pude vê-lo melhor. Vestido uma calça jeans puída e blusa social escura, pude ver que ele não passava de vinte anos. Em seus olhos eu vi a perda da inocência que ainda tinha. Pensei na minha criação os pais que tive, a excelente  condição de vida que eles me deram. As ideologias que eles introjectaram de forma sútil em minha personalidade  que me levou a ser do jeito que sou hoje e o meu comportamento modelado pela sociedade elitizada a qual fui forçada a conviver.

 Como que foi a vida desse garoto? O que levou a tentar realizar uma pratica ilegal, que eu fiquei sabendo depois, como furto?  Talvez algum dos pilares que o levaram a isso foi as pessoas a qual ele conviveu que também realizavam essa prática ou quem sabe família de baixa renda desestabilizada.  Será que se eu tivesse vivido com esses pilares sendo parte do meu alicerce seria eu com as algemas? Muitas perguntas nenhuma resposta.

No final das contas,  ele foi levado à força até algum local obscuro do Shopping, o qual  não era visto com muita frequência pelos consumidores frenéticos, porém antes eu pude ver o seu olhar desolado murmurando palavras que fugiam da minha compreensão. O mais irônico que eu pude ver a garota  morena assustada refletida em seus olhos. A jovem mulher apesar das suas conjecturas piedosas nunca conseguiria entendê-lo, mesmo se quisesse.



 
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