Romeu, o pirralho e Julieta, a matrona

19/09/2014 1 Comentário
         

    Recentemente uma amiga me contou que estava gostando de um cara e eu tive uma reação normal quando uma amiga conta algo do tipo. Fiz inúmeras piadas com a danadenha, fiz um milhão de coraçõezinhos no caderno dela e claro que cantei "Love is in the air" para zoar com a cara dela. Isso é normal, óbvio, mas  tinha um pequeno probleminha.Ele é mais novo.  Dentre as inúmeras qualidades do rapaz, o fato dele ser três anos mais novo que ela era um fator crítico.

   Se você não está entendendo qual é o problema, você simplesmente pode parar de ler o texto aqui, mas, se sim, continue lendo.

Eu fiz uma pequena careta para o que ela me disse, afinal, mais novo? Eu lembrei de todos os casos que vi quando crescia sobre relacionamento de mulheres mais velhas com homens mais novos. Fiquei com a imagem da Susana Vieira, Maddona, e seus namorados  novinhos e quão esquisito e negativo aquilo soava para mim, relacionei minha amiga a elas. As expressões "Papa anjo" e "pedófila" vieram na minha mente como um raio, de quebra imaginei minha amiga namorando uma criança.  Só que em um determinado momento eu parei e pensei," Porque eu vejo isso como algo ruim?".

Se prestarmos atenção nos paradigmas culturais na sociedade, relacionamentos entre pessoas do sexo feminino com pessoas dos sexo masculino de idade inferior são  extremamente condenadas,(só lembrar das manchetes quando a Madonna começou a namorar o Jesus Luz), porém quando os papeis se invertem não há muito alarde. Na verdade, eles são até glorificados por isso. Vemos ícones do rock como Keith Richards, Paul McCartney e suas companheiras possuem diferença de idade superior a 25 anos. Para o olhar masculino eles são tanto uma referência no campo musical quanto no quesito masculinidade.Afinal, é "normal" homem namorar,casar, transar com mulheres mais novas.Qual é o problema disso? Eles podem.

O fato de muitas pessoas concordarem com a corrente "das coisas que os homens podem e as mulheres não", mostra o quanto que a cultura precisa mudar. O feminismo contribuiu para a mulher conquistar seus direitos, seu espaço no mercado de trabalho e em várias questões culturais, mas não é apenas isso. Ainda há muito trabalho com a mentalidade arcaica e machista que ainda predomina na sociedade que limita e incomoda a liberdade feminina.

Na literatura há inúmeros casos de romances épicos em que os protagonistas eram mais velhos que as protagonistas. Nesse livros a idade do homem significava maturidade, equilíbrio emocional e procura de estabilidade com um cônjugue (apesar do passado de garanhão).Porém, pode reparar que quando há no mundo literário a mesma situação com mulheres, normalmente são personagens secundários e caracterizados pejorativamente como a mulher que tentava incessavelmente ficar mais jovem. Se Julieta fosse alguns aninhos mais velha que Romeu, o romance deles seria menos belo e complexo? Ele seriam menos afortunados, porquê a velha Julieta a matrona que abusou do jovem e inocente Romeu e ocasionou  um trágico fim?Quem sabe ela seria até mesmo a culpada por tudo.

Em suma, a mulher, como indivíduo e quem deve fazer suas escolhas, querer ser quem quiser e se relacionar com a pessoa ( ou pessoas) que quiser, sem ter aquela coerção social sobre a sua vida, sobre o certo e errado não válidos para o sexo oposto. Além disso, o fato dessa coerção ainda existir mostra o que o papel do feminismo ainda não acabou, o caminho para a igualdade é longo.

Ah, mais uma coisa, eu menti. Sabe aquela  minha amiga? Na verdade, é sobre mim quem eu me referia.Todos aqueles pensamentos bizarros  rodaram a minha cabeça e eu realmente me puni por ter sentimentos por um cara mais novo. Eu tive que ouvir comentários toscos sobre procurar alguém da minha idade e sobre como é errado procurar um "namorado" no playground. Aí eu lembrei que existe uma coisinha chamada livre arbítrio e mandei todo mundo ir à merda.



Ps: Esse texto foi escrito durante uma evasão de sentimentos conflitantes, ignore qualquer erro gramatical ou ortográfico.

 
Desenvolvido por Michelly Melo.