Um estranho com memórias

29/11/2014 Nenhum comentário


Nós não fizemos nossos votos. Nunca foi na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Você não se ajoelhou em um joelho e pediu minha mão. Eu não chorei de felicidade, nem mesmo me joguei em seus braços. Você nunca ficou nervoso ao conhecer meus pais. Eu nunca troquei de roupa cinco vezes para conhecer a sua mãe. Você nunca sorriu altivo, ao falar para alguém que era sua namorada. Eu nunca me gabei do meu namorado ser incrível.  Porém, de certa forma sinto que fizemos tudo isso, uma bagagem imaginária baseada no que eu senti por você e que tudo virou pó essa tarde quando eu olhei nos seus olhos e senti que estava conversando com um estranho familiar. 

Um estranho que fazia rir como uma louca das suas gracinhas. Um estranho que ficou vermelho quando segurou minha mão pela primeira vez, e depois disso nunca mais teve vergonha de segurá-la. Um estranho que deitava no meu colo e fechava os olhos, enquanto eu fazia um cafuné. Um estranho que quando eu pousei meus olhos nele, pela primeira vez, senti que o conhecesse a minha vida toda. Um estranho que cantou Michael Jackson comigo e ainda fez os passos de dança. Um estranho que me carregou por um pátio cheio de gente, só para comprovar que era forte, mas falava "Você tá gorda" a cada cinco segundos, porque não aguentava. Um estranho que dispensava outras meninas para ficar comigo. Um estranho, o qual abraço era o lugar mais seguro de todos. O estranho que me fazia sorrir só de lembrar dele. O estranho o qual por milagre saiu de casa para ir ao meu aniversário e fez a noite ser especial, só ele estava lá.O estranho que me embalou em seus braços e me deixou chorar enquanto meu mundo desabava.O estranho que me olhou como se eu fosse a mulher mais linda do mundo para fazer uma piadinha sobre meu estado um tanto enérgico depois. O estranho que me fazia sentir que o mundo só tinha nós dois.O estranho mais bonitinho de todos. 

O estranho de quem me aproximei hoje e o reconheci como o garoto que me apaixonei, mas não conhecia mais. Hoje, você, o garoto mais familiar de todos virou um estranho para mim e quando vi, o reconhecimento desconfortável, da minha presença, descobri que também era uma estranha perante seus olhos.  Foi assim que nós viramos estranhos. Estranhos  com memórias que nenhum de nós dois podíamos suportar, pelo simples fato da inexistência de um futuro, o qual poderíamos dizer algo como "Até a morte nos separe.".

N.


Ps: Odeio casamentos.

 
Desenvolvido por Michelly Melo.