O tipo de amor que ninguém deveria aceitar

16/01/2016


Não quero mais o seu amor.
Não.
Chega.
Basta.

Dizem: "Deve-se abraçar e aceitar todas as formas de amor," mas esse? Há! Não quero mais.
Não quero contaminar minha felicidade com o medo, meus sorrisos com lágrimas,meus passos com receio.  Estou cansada de fingir que não é nada demais, maquiar a minha dor, humilhação e raiva, sobretudo me enganar, sobre a incoerência desses sentimentos.

Ouvi muitas vezes,no passar dos anos,que a forma mais pura de amor é aquela sentida de pais para filhos. É um amor que consome, capaz mudar suas prioridades, a ponto de sacrificar tudo em prol da felicidade e  bem-estar de um indivíduo. Porém, não consigo entender como esse amor absoluto e irrevogável pode ceder a violência psicológica e física.

Minha cabeça não consegue entender plenamente como a pessoa capaz de me inspirar - quem me ensinou a nadar,a somar 2+2, a dirigir e dar um belo gancho de esquerda- pode ser quem mais temo. Engraçado, para não dizer trágico, como se apresenta essa dualidade.

O viés que tomo nesse texto, é exclusivamente em relação a paternidade. Nós vivemos numa sociedade patriarcal, machista ,a qual empodera o homem a fazer o quê quiser, quando quiser, e essa "autoridade" se estende a vida familiar. Filhos e esposas são o alvo fácil por quê na hierarquia velada estabelecida eles estão numa escala inferior ao homem.

O amor de pais para filhos é extremo, mas a moral e o padrão aceito pela sociedade em que vivemos também é. Meninos e meninas foram criados para se submeter a vontade do patriarca, aos homens de forma complementar lhes foi ensinado como assumir esse posto. O bizarro é que para esse exercício de poder há um conjunto de fatores que contornam a situação, ao invés de confrontá-la. Dessa forma, há negação do abuso,ou relativização mudança de comportamento, e anulação de sentimentos conflitante e de autoestima.*

Claro, esses dois retratos não são a regra, só por que estou falando não significa que em todas as famílias são assim. Logicamente nem todos os pais são opressores, nem todas as mães são "santas", nem toda família tem relação abusiva,ou todas são perfeitas, e existem muitos pais que não amam o filho mais que a si mesmo. No fim das contas, se eu fosse abordar todas essas variáveis, eu escreveria até amanhã e provavelmente esse texto que é ambíguo, seria mais sem nexo. Meu ponto é na verdade o seguinte:

Minha mente partiu do quanto sociedade influência em nossa formação humana e social, e como ela impacta  nossas ações e maculam nossas emoções. Em tantos pontos a nossa consciência coletiva é preconceituosa e abusiva, e elas não mancham apenas a cerne familiar, mas a nossa relação uns com os outros. Um homem branco, engravatado, da elite paulista, se vê muito mais poderoso e no título de ter direitos,  que a mulher negra de baixa renda que, por acaso, limpa o seu escritório.

Eu não quero um amor manchado pela maledicência da sociedade em que vivo.
Na verdade, não aceito  viver a resignada da maculação dos mais belos sentimentos humanos, e principalmente, renuncio minha habilidade de sofrer em silêncio, subjugada aos excessos e a dualidade do meu progenitor, quem eu amo, ser também meu carcereiro.

Me recuso
Não.
Chega.
Basta.



Esse texto é o backup do texto original, que fora publicado, mas a anta aqui excluiu na hora de corrigir uma vírgula. Então perdi 99% das minhas alterações, corrigirei brutalmente pela manhã, mas deixo publicado.

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