Vestindo memórias

08/06/2016

  Vários objetos possuem grande carga emocional, eles representam pessoas, momentos, sentimentos. Seja uma pedra, uma flor, um broche ou um vaso. Porém, de todos as coisas existentes que carregam memória, as minhas preferidas são roupas. 
  Aquilo que cobria meu corpo, mas não minha alma, que me acompanhou nos gestos mais ínfimos, ouviu todas as palavras como uma amiga paciente,  presenciou todos os sorrisos, caretas, constrangimentos e até mesmo lágrimas.
  Comigo, ela entrou em contato com poeira, molhos, terra e  líquidos suspeitos, na mesma intensidade. E as vezes, apesar das tentativas de  apertar Ctrl+alt+del, e apagar qualquer fragmento do que foi vivido,não é possível,, por mais que esse desejo seja extremamente válido, pois assim como eu, ela foi manchada permanentemente pelas memórias.

  É por isso, que de todos os objetos da minha vida, as roupas são tão queridas. Elas são fragmentos de um espaço tempo passado. São figurantes de um filme, que ninguém gravou. Espectadoras de primeira mão da minha vida. Vesti-las é como entrar dentro de uma fotografia, é voltar no tempo caminhando para futuro, criar novas memórias sem esquecer tudo que passou. E estranhamente, há um grande conforto saber disso.

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