Puf

16/04/2017 Nenhum comentário

Com papel e caneta crio planos. Quando levanto a mão os destruo. Puf. Tudo se torna poeira. A profecia de Marx se torna verdadeira, e o tudo que é sólido, realmente, se desmancha no ar.

Ambiciosa. Sonhadora. Criativa. A menina que aprendi ser, sempre sorri com os olhos para tocar o coração das pessoas, mas o seu próprio está fora de alcance. "A solidão é a ausência de si mesmo", fui tantas e serei tantas personas de quem quero ser, mas oca por eu não me pertencer.

O sorriso característico é treino. Olhares minuciosamente trabalhados no espelho. Músculos da boca repuxando para cima, em sincronia com o brilho nos olhos. Os cristais das lágrimas refletem o arco- íris para quem quer ver, afinal, é muito mais fácil disfarçar a minha terra arrasada com meus dentes. A alegria é fácil de ser vendida, é o pote de ouro guardado pelo duende que todo mundo jura que viu,  mas nunca reivindicou para si. Crio bolhas nesse mercado só para fazer alguém feliz.

Então sigo, com meu papel e caneta, criando planos. Montando o personagem de quem fingirei ser. É nesse momento que levanto os olhos do papel, e  vejo reflexo fraco e translúcido na janela. 
Sorrio.
Levanto a mão, e..

Puf.

 
Desenvolvido por Michelly Melo.